SOBRE SUSPENSA NO QUE GUARDA

A pinha permanece pendurada pelo fio de ráfia como quem flutua dentro daquilo que ainda contém. Não se apressa a abrir as escamas, nem se fecha por completo: fica num meio-gesto, num tempo próprio, suspensa naquilo que guarda e talvez nem precise revelar.

A ráfia que a envolve segue-lhe o corpo com uma atenção quase instintiva. Não aperta; apenas acompanha, como se quisesse aprender a linguagem da madeira. O seu entrelaçar parece um murmúrio à volta da pinha, um gesto que reconhece a delicadeza do que ali se concentra.

Elevada do chão, a pinha torna-se mais íntima — um pequeno mundo a respirar devagar. Carrega sementes, memórias e uma quietude antiga, daquelas que só existem nas coisas que sabem esperar.

A obra vive nesse estado de suspensão: não é sobre o abrir, nem sobre o romper, mas sobre esse instante silencioso em que tudo permanece possível dentro do que ainda se guarda.

SUSPENSA NO QUE GUARDA, 2021. Pinha e ráfia, 60cm x 15cm x 18cm.