SÉRIE SOPRO EM SUSPENSÃO 

No coração ardente da fornalha, a cerca de 1 500 °C, o vidro desfaz-se em luz e torna-se pulso vivo. É nesse limiar entre o que tremula e o que nasce que Adosa se aproxima: não para comandar, mas para escutar. Escutar o seu sopro que toca a matéria e a desperta. A criação acontece nesse diálogo silencioso — mão, fole e massa incandescente rendidos ao mesmo instante, ao mesmo respirar. A matéria conduz; a artista segue. 

Sopro em Suspensão é a celebração desse gesto de entrega. Um encontro entre o que é fugaz e o que se fixa, entre o clarão que dura um segundo e a forma que perdura. Dedicado à vida — que, como o vidro quente, é frágil e mutável, mas também maleável ao tempo, moldada pelo calor, pelo sopro de cada um, pelo ritmo invisível das coisas. No instante em que sai do forno, a matéria paira entre mundos: entre o surgir e o fixar-se, entre o desejo e a realidade. Ali, tudo é possível — até a eternidade. Adosa caminha com essa incerteza luminosa. Confia no que pode partir-se em segundos ou tornar-se brilho inalterável. A matéria dita o compasso, acolhe o sopro, indica o caminho; e a artista, com leveza, simplesmente acompanha o movimento da transformação.

Diante das peças, perguntamo-nos e já não sabemos ao certo o que contemplamos: é escultura? é pintura de luz? É instante capturado? Respiração? Talvez tudo, talvez outra coisa. O que permanece é o sinal de um sopro poético — a magia da transformação, a escuta íntima, a vida que se desenrola como chama. Cada forma é um eco do próprio fôlego: luz solidificada, instante capturado, silêncio tornado corpo.

Em Sopro em Suspensão, habitam o intervalo entre o fazer e o tornar-se, a confiança na matéria-mestre e a reverência por aquilo que nos molda. A revelação de uma metáfora profunda da humanidade: a incerteza da vida, da vulnerabilidade e da delicadeza de se deixar levar. E assim, Sopro em Suspensão é o gesto de Adosa oferecido ao mundo: o seu sopro, a sua escuta, e a matéria incandescente onde a existência encontra forma.