
SÉRIE CORTE VIVO
Na série Corte Vivo, Adosa investiga a paisagem interior da pedra, abrindo nela linhas precisas que revelam um mundo silencioso e pulsante. A rocha, antiga e opaca, torna-se superfície de transição — lugar onde o gesto humano intervém, mas não domina.
Do corte emergem novas presenças: o vidro, transparente e frágil, inscreve-se como luz solidificada, como silêncio que se ergue. A sua nitidez contrasta com a matéria irregular da pedra, criando um diálogo entre dureza e delicadeza, entre peso e suspensão.
Em algumas peças, o musgo ocupa as fendas como uma respiração verde. A vida infiltra-se nas margens da fratura, reivindicando espaço onde antes reinava apenas o mineral. É nesse encontro entre o orgânico e o mineral, entre o corte e o crescimento, que a obra encontra a sua vibração.
Em Corte Vivo, a rutura não é fim, mas abertura — um espaço onde a matéria se torna permeável à luz, ao tempo e ao inesperado. As esculturas revelam que, mesmo na rigidez da pedra, algo permanece vivo e em movimento. AquI, a cicatriz transforma-se em território fértil.
