
SOBRE NERVURA SEM CORPO
Nervura Sem Corpo apresenta uma folha que já não possui matéria, apenas o traço insistente da sua estrutura. O arame, moldado com delicadeza e tensão, delineia aquilo que sobra quando o corpo se perde: a vontade de permanecer. Sobre a madeira marcada pelo tempo, pelo corte e pela interrupção da vida, a nervura ergue-se como um gesto de resistência.
A base de madeira funciona como testemunho do que existiu — um corpo natural interrompido — enquanto a estrutura de arame revela o impulso de continuar para além da matéria. A obra expõe esse contraste: a árvore que não pôde prosseguir e a folha que, mesmo sem corpo, insiste em nascer de novo.
Nesta tensão entre ausência e persistência, a peça torna visível a força silenciosa da sobrevivência. A nervura, vazia e leve, afirma uma espécie de luta íntima: a tentativa de existir quando o resto já cedeu. É uma presença frágil, mas determinada, que transforma o vazio em forma e faz do quase nada um ato de continuidade.
A escultura torna-se, assim, o registo de uma resistência improvável — a última linha de vida que permanece quando tudo o mais se perdeu.
NERVURA SEM CORPO, 2022. Madeira e arame galvanizado, 26cm x 15cm x 53,5 cm.
