SOBRE CONSTELAÇÃO DE RAMOS

A peça apresenta-se como um céu terrestre, onde ramos encontrados ao acaso se organizam numa espécie de constelação orgânica. Cada galho, com o seu percurso próprio inscrito em curvas, quebras e pequenas insistências, aproxima-se dos outros como se procurasse um lugar no desenho maior. O cordão e a ráfia que os envolve funciona como gesto de aproximação — um modo de juntar presenças, de estabelecer relações, de permitir que cada linha de madeira encontre eco noutra.

A estrutura torna-se então um mapa do inesperado: formas que se cruzam sem se anularem, presenças frágeis que se sustentam mutuamente, pontos que se unem para criar um ritmo quase celeste. Há no conjunto uma sensação de suspensão, como se tudo estivesse prestes a mover-se lentamente, caminhando para outro alinhamento possível.

Em Constelação de Ramos, o olhar percorre um céu feito do que resta no chão — fragmentos de árvores, memórias de vento, pequenos vestígios de vida que, recolhidos e reunidos, formam uma nova ordem. A obra sugere que cada coisa, mesmo caída, pode encontrar um lugar de brilho se colocada em relação com outras. Aqui, a constelação não se descobre no alto, mas nasce das proximidades, das ancoragens, dos encontros que a ráfia torna visíveis: um céu inventado, mas profundamente terrestre.

CONSTELAÇÃO DE RAMOS, 2023. Madeira, pinha, ráfia e corda, 190cm x 0,51cm x 125cm.