SOBRE COLIBRI

Esta escultura nasce do olhar sensível de Adosa e da sua busca contínua por revelar o diálogo íntimo entre a natureza e a matéria transformada. Madeira flutuante recolhida numa praia portuguesa, ráfia e vidro entrecruzam-se aqui num gesto poético que ultrapassa a mera combinação de materiais: tornam-se presença, respiração e memória.

A madeira, marcada pelo tempo, pelo sal e pelo silêncio do mar, sustenta a peça como um corpo antigo que carrega histórias. A sua solidez orgânica contrasta com a leve vibração da ráfia, cujos fios evocam o movimento do vento, o ritmo das marés, a delicadeza dos ciclos naturais. Entre estes dois elementos, o vidro introduz uma dimensão de luz — uma transparência que não pertence ao mundo natural, mas que o reflete e amplifica, captando brilhos efémeros e criando uma ponte entre o visível e o intangível.

Em Colibri, Adosa convoca uma relação sensorial e contemplativa: a rugosidade da madeira, a textura viva da ráfia, o brilho suspenso do vidro. A peça revela as fronteiras porosas entre aquilo que a natureza oferece e aquilo que a mão humana transforma, mostrando que ambos coexistem num equilíbrio subtil. É uma obra que nos convida a abrandar, a escutar o que é invisível, a reconhecer a beleza simples e complexa que emerge quando matéria, luz e gesto artístico respiram em uníssono.

COLIBRI, 2023. Vidro soprado e ráfia sobre madeira, 51 cm x 34 cm x 56 cm.